Talento

Estudante da USP é premiada por trabalho sobre alimentação no sistema prisional
Beatriz Oliveira Santos venceu o 6º Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher com pesquisa desenvolvida na iniciação científica da Faculdade de Saúde Pública da USP
Por Silvana Salles - 26/01/2025



Com um trabalho que utiliza a alimentação como uma lente para compreender o sistema prisional, a nutricionista e estudante Beatriz Oliveira Santos foi vencedora da 6ª edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, concedido pela Sociedade Brasileira para o Avanço da Ciência. Beatriz cursou a graduação em nutrição na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e está iniciando o doutorado no programa de pós-graduação em Saúde Pública.

A estudante foi a vencedora na área de Biológicas e Saúde com o trabalho Disputas e Arranjos em Torno da Alimentação no Contexto Prisional, no qual discute as relações entre alimentação, punição e saúde no contexto das prisões brasileiras. Foi desenvolvido na iniciação científica, sob a orientação do professor José Miguel Olivar.

O texto premiado apresenta resultados de um trabalho de campo que Beatriz desenvolveu em Manaus entre janeiro e fevereiro de 2023, em parceria com Coletivo de Familiares e Amigos de Presos e Presas do Amazonas (Coletivo FAPAM), hoje chamado Coletivo Entre Elas, e o grupo de pesquisa Ilhargas. Beatriz apresentou seus dados à FSP no trabalho de conclusão do curso de graduação, que está disponível para consulta on-line, em PDF.

“Este estudo utilizou como marcador temporal os dois massacres ocorridos nas prisões de Manaus, em 2017 e 2019, analisando as alterações provocadas na regulação da dinâmica alimentar das unidades prisionais”, conta a autora. Partindo do princípio de que a alimentação é um direito social no Brasil desde 2010 e do conceito de direito humano à alimentação adequada, ela procurou documentar como familiares, amigos e sobreviventes do cárcere resistem às dinâmicas da fome e do adoecimento no sistema prisional.

Para a nutricionista o tema permite questionar como a fome é usada na gestão das prisões para ampliar o controle sobre a rotina carcerária, gerando redes de adoecimento físico, emocional e social. “O sistema prisional não é apenas uma instituição punitiva, mas também um espaço que molda relações de poder e afeta múltiplas esferas da vida social. Defendo que a regulação da fome constitui um grande motor dessas dinâmicas (de gestão da vida e da morte no Brasil contemporâneo), que passa por um ataque a um direito humano básico”, argumenta.

Beatriz e o professor José Miguel comemoraram a notícia da conquista da estudante. “Este prêmio representa um reconhecimento significativo do trabalho que venho desenvolvendo com o grupo de pesquisa Mulheres vivendo, tecendo, cortando as malhas do encarceramento, formado por pesquisadores e coletivos de militância do Amazonas, Maranhão e São Paulo. Nosso objetivo tem sido construir uma compreensão da experiência prisional e dos direitos, no encontro de óticas como as do abolicionismo penal, a saúde pública, o antirracismo e uma base feminista”, diz ela.

O trabalho de campo realizado em Manaus foi desdobramento de uma iniciação científica anterior, na qual Beatriz fez um levantamento bibliográfico de estudos sobre as práticas de aleitamento materno exclusivo por pessoas em situação de cárcere no Brasil, produzidos desde 2000. Essa primeira iniciação científica contou com a orientação da professora Bárbara Hatzlhoffer Lourenço e também resultou em um trabalho premiado. Em 2022, ela recebeu o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos, concedido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Vladimir Herzog.

A sexta edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher premiou pesquisas de iniciação científica que demonstraram criatividade, boa aplicação do método científico e potencial de contribuição para a ciência no futuro. A SBPC recebeu 166 inscrições de alunas de ensino médio e 599 de estudantes de graduação, de todas as regiões do Brasil. As estudantes vencedoras receberão prêmios em dinheiro e terão a oportunidade de apresentar seus trabalhos na próxima Reunião Anual da SBPC.

A cerimônia de entrega do Prêmio Carolina Bori ocorrerá em 11 de fevereiro, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O evento será realizado no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP e será transmitido pelo canal da SBPC no YouTube.

 

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